Respeito, gratidão e o velho jogo de poder na política local

Vitória na Justiça expõe embate entre Carminha e Augusto Castro e reacende debate sobre respeito, gratidão e poder na política local.

COLUNA DE OPINIÃO - LISDEILI NOBRE

8/14/20252 min read

COLUNA DE OPINIÃO | LISDEILI NOBRE

Respeito, gratidão e o velho jogo de poder na política local

A sexta-feira, 8 de agosto, começou com gosto de vitória para o Sindicato do Magistério – SIMPI. O Juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública de Itabuna, Dr. Júlio Gonçalves Jr., julgou procedente a ação movida pelo sindicato em defesa dos professores recém-concursados, que desde 2024 sofriam com o desrespeito à sua titulação e outros direitos previstos em lei.

A sentença foi clara:

  • Reconhecimento do direito ao adicional de classe (20%) para quem atua na educação infantil e no 1º ao 5º ano;

  • Enquadramento funcional de acordo com a titulação, com pagamento do piso;

  • Gratificações para mestrado e doutorado;

  • Respeito aos adicionais de difícil acesso e ao auxílio deslocamento para quem trabalha em escolas do campo e zona rural.

Vale lembrar: a decisão só beneficia os professores filiados ao SIMPI. A presidente do sindicato, professora Carminha Oliveira, celebrou a conquista e pediu sensibilidade ao prefeito Augusto Castro para que não recorra da decisão.

O que parecia ser apenas mais um capítulo da luta sindical ganhou novos contornos horas depois. Após entrevista de Carminha a uma rádio local, celebrando a vitória judicial, o prefeito ligou para ela, demonstrando insatisfação com suas declarações. Pediu “respeito” e a chamou de “ingrata”. A conversa foi exposta pela sindicalista nas redes sociais, que rebateu: está no seu papel de líder sindical, fiscalizando e informando a categoria.

Mais que um embate pontual, o episódio revela práticas antigas na política local. O pedido de respeito em tom de cobrança pessoal, quando a crítica é dirigida à administração pública, soa como tentativa de personalizar o debate. Pior ainda é o pedido de gratidão, como se obrigações legais – no caso, o pagamento de precatórios trabalhistas e direitos assegurados por lei – fossem favores concedidos pelo gestor.

Essa lógica beira a relação paternalista: a de que servidores e cidadãos devem lealdade pessoal a quem está temporariamente no comando do poder público, quando, na verdade, tais direitos são de natureza obrigatória, e o não cumprimento pode gerar responsabilização civil, fiscal e até criminal.

Outro ponto é o comentário insinuando que a líder sindical estaria “enfraquecida” – uma velha tática política para tentar desmoralizar o interlocutor, reduzir seu espaço e reafirmar uma hierarquia. Ridicularizar, minimizar ou lançar dúvidas sobre a força de quem questiona é expediente comum no jogo do poder, mas que, em democracias maduras, deveria estar sepultado.

O caso Carminha x Augusto não é apenas um bate-boca. É um retrato das tensões entre o papel fiscalizador da sociedade organizada e a dificuldade de alguns gestores em separar críticas à administração de ataques pessoais. No fim, o que está em disputa não é o respeito – é a narrativa sobre quem manda e quem deve obediência.