O voto das nossas Cármens, das nossas Lucias, o voto de Cármen Lúcia!

“O voto de Cármen Lúcia ecoa como a voz de todas as mulheres brasileiras contra a violência e o autoritarismo.”

Lisdeili Nobre

9/12/20252 min read

Foi numa quinta-feira que a história se curvou ao peso da justiça.

E não é qualquer justiça — é a que fala pela boca firme de Cármen Lúcia, ministra do Supremo, que neste dia não apenas condenou um homem, mas deu voz a todas as mulheres que Jair Messias Bolsonaro tentou calar, humilhar e reduzir.

A trajetória política de Bolsonaro sempre foi marcada por violência. Não a violência de quem age nas sombras, mas a de quem se escondeu atrás do microfone e da cadeira presidencial para insuflar o ódio. A violência de gênero foi sua assinatura: quando disse à deputada Maria do Rosário que “não merecia ser estuprada”; quando insinuou sobre a jornalista Patrícia Campos Mello que ela “queria um furo a qualquer preço”; quando, em debate, escarneceu de Vera Magalhães dizendo que ela “dormia pensando nele, que era uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. E ainda a frieza de defender que mulheres recebessem salário menor porque engravidam — como se gerar vida fosse um defeito.

Não parou aí. Sua boca também se voltou contra a população LGBTQIA+: “prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Palavras que não se restringem à homofobia, mas que revelam o mesmo desprezo por quem rompe a norma de gênero, a mesma lógica de violência e exclusão.

Essas não foram frases soltas, mas escolhas conscientes, tijolos num muro de ódio erguido como modelo de poder. E mais: sua gestão cortou recursos de políticas públicas para mulheres, fragilizou mecanismos de proteção e alimentou uma epidemia de violência de gênero que sangra todos os dias neste país.

Por isso, há algo de profundamente simbólico neste dia. O mesmo homem que ergueu sua carreira sobre a desqualificação das mulheres foi condenado pelo voto de uma mulher. O voto de Cármen Lúcia não é apenas jurídico ou técnico. É um ato histórico, uma resposta que o destino cobra: o que se planta, colhe-se. É a reafirmação de que a democracia não pode ser sequestrada por quem aposta na violência; é a resposta institucional contra o golpismo; é também a reparação simbólica de décadas em que mulheres foram alvos de escárnio e desdém.

Se Bolsonaro passou a vida tentando apequenar mulheres, agora é uma mulher que se ergue e o apequena diante da história. O voto de Cármen Lúcia é a lembrança de que o patriarcado pode até gritar, mas o direito à dignidade das mulheres ecoa mais alto quando encontra coragem nas instituições.

Hoje não foi apenas Bolsonaro que foi condenado. Foi sua lógica de desprezo, seu manual de violência.
E esse voto não pertence só a uma ministra do Supremo — pertence às nossas Cármens, às nossas Lucias, às tantas mulheres que carregaram o peso da humilhação e agora encontram, na voz de uma delas, a força da resposta.

E que fique claro: as nossas mulheres não admitem mais homens que representem a violência. O tempo deles passou. O tempo agora é da resistência que se transforma em decisão, da coragem que se transforma em justiça.