O drink amargo do lucro fácil

O lucro rápido e a fiscalização lenta formaram a mistura perfeita para uma tragédia química: o metanol virou o novo veneno do lazer brasileiro.

Lisdeili Nobre

10/4/20252 min read

O Drink Amargo do Lucro Fácil

O brasileiro está em alerta. Jovens, principalmente, começam a olhar com desconfiança aquele copo colorido que antes era sinônimo de lazer, liberdade e alegria. O mercado de drinks, que vinha em alta no país, foi abalado pela presença de um velho conhecido das tragédias químicas: o metanol, uma substância tóxica e proibida para consumo humano.

A mistura indevida do metanol em bebidas destiladas não é acidente — é crime. Um crime contra a saúde pública e contra a economia, praticado em nome do lucro rápido e da irresponsabilidade. Em vários estados do Brasil, já há registros de casos graves de intoxicação, com mortes e sequelas irreversíveis: jovens que perderam a visão, que tiveram falência renal, que perderam a vida.

O objetivo dos falsificadores é simples — e perverso: aumentar o teor alcoólico e reduzir custos. O resultado, no entanto, é devastador. O barato que sai caro, nesse caso, custa caro demais.

Essa tragédia também escancara o que sempre fingimos não ver: a fiscalização falha e a cumplicidade indireta de quem compra e vende sem checar procedência. Donos de bares, ambulantes e microempreendedores precisam entender que o cliente é o patrimônio, não a cobaia. Intoxicar o consumidor é, no fim das contas, matar a galinha dos ovos de ouro — e o resultado já aparece: queda de até 50% no consumo de bebidas destiladas em cidades afetadas.

O Brasil é país de festa, de turismo, de barzinhos e de alegria. Mas virou também o país onde se vende bebida na rua, sem licença, sem controle e sem vergonha — algo que é proibido em boa parte do mundo. Até a nossa famosa caipirinha, patrimônio cultural e símbolo do verão brasileiro, entrou na lista das suspeitas.

A liberdade de vender não pode ser confundida com o direito de envenenar. Quando o Estado se omite e o comércio se aproveita, quem paga a conta é o povo — e essa conta vem em forma de dor, luto e descrédito.

O metanol nas bebidas é mais do que uma fraude: é um retrato químico da negligência que contamina o país há tempos — a mistura tóxica de impunidade e ganância.