“Não basta exonerar: é preciso romper com a estrutura que naturaliza a violência”
A resposta do poder público, muitas vezes, se limita ao encarceramento do homem, esquecendo que a prevenção está na autonomia da mulher. Investir na educação, na formação política, no empoderamento econômico das mulheres é tão essencial quanto prender o agressor. Sem isso, apenas adiamos o próximo vídeo. Em Itabuna, fui autora de duas leis municipais uma delas aprovada e sancionada, mas ambas nunca saíram do papel.
Por Lisdeili Nobre
7/22/20252 min read


📰 RESUMO DO FATO – AGRESSÃO EM ITABUNA
VÍDEO: Servidor da Prefeitura de Itabuna agride ex-namorada em via pública
Na noite de segunda-feira (22), câmeras de segurança flagraram uma cena brutal de violência de gênero no bairro Urbis 4, em Itabuna (BA). Um servidor da prefeitura, identificado como José Eduardo de Souza Filho, foi filmado agredindo violentamente sua ex-namorada com socos, chutes e puxões de cabelo em plena rua.
Nas imagens, a mulher aparece tentando fugir, mas é alcançada pelo agressor, que chega a arrancar sua blusa durante a investida. Segundo informações da TV Santa Cruz, afiliada da TV Bahia, o agressor não aceitava o fim do relacionamento de três anos.
A vítima sofreu diversas lesões e precisou de atendimento na UPA de Itabuna. Apesar da violência, seu estado de saúde é estável.
✒️ COLUNA DE OPINIÃO – “Não basta exonerar: é preciso romper com a estrutura que naturaliza a violência”
A cada vídeo que circula nas redes, a cada rosto machucado, a cada nota de repúdio, uma certeza se impõe: não é suficiente. Não é suficiente exonerar do cargo na prefeitura de Itabuna. Não é suficiente levantar a mão só depois da agressão com o "x" na mão. Não é suficiente publicar um card com #violêncianão.
O que vimos em Itabuna é um retrato cruel e repetido do que acontece diariamente em todo o Brasil. A violência contra a mulher não começa no soco. Começa muito antes, na estrutura que ensina que o homem tem o direito de decidir quando o relacionamento começa e, principalmente, quando termina. Quando a mulher decide romper, o ego masculino, inflado pela ideia de posse, responde com fúria. E muitas vezes, com sangue.
Sou delegada de polícia. Há 23 anos prendo homens por crimes contra mulheres. E posso dizer com segurança: os números não param de crescer.
Lesão corporal contra mulheres: 258.941 casos em 2024 — aumento de 9,8%
Violência psicológica: aumento de 33,8%
Ameaças: 778.921 casos — aumento de 16,5%
Tentativas de homicídio contra mulheres: 8.372 — aumento de 9,2%
Feminicídios: 1.467 mulheres mortas — aumento de 0,8%
E esses números são subnotificados. Muitos casos não chegam à delegacia. Muitas mulheres não denunciam por medo: medo de não serem acolhidas, medo do agressor sair da delegacia antes que elas saiam do hospital.
A resposta do poder público, muitas vezes, se limita ao encarceramento do homem, esquecendo que a prevenção está na autonomia da mulher. Investir na educação, na formação política, no empoderamento econômico das mulheres é tão essencial quanto prender o agressor. Sem isso, apenas adiamos o próximo vídeo.
Em Itabuna, fui autora de duas leis municipais aprovadas e sancionadas, mas que nunca saíram do papel:
Lei nº 2.641/2023 – Obriga bares, restaurantes e hotéis a fixarem placas com o Disque-Denúncia de Violência contra a Mulher. Aprovada em 07/11/2023 e sancionada em 13/11/2023.
Lei da criação da Secretaria Municipal da Mulher – uma promessa de estrutura permanente que ainda não virou realidade.
Ambas seguem invisíveis, como tantas outras ações que só existem na formalidade.
Enquanto o foco da sociedade continuar sendo apenas a punição, e não a transformação estrutural, vamos seguir colhendo corpos e manchetes. O enfrentamento à violência de gênero não é reativo — é revolucionário. E precisa começar agora.
Por Lisdeili Nobre
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