Demora covarde: a morte evitável de Juliana Marins expõe falhas e descaso no resgate na Indonésia

"Demora covarde matou Juliana: ela esperou o socorro que não veio."

Lisdeili Nobre

6/24/20252 min read

Juliana Marins, 24 anos, brasileira, dançarina de pole dance, mochileira e sonhadora. Foi encontrada morta nesta terça-feira (24) após passar quatro dias agonizando no vulcão Rinjani, na Indonésia. O acidente aconteceu na última sexta (20), quando ela escorregou e caiu cerca de 300 metros da trilha. O que se seguiu não foi apenas uma tragédia natural — foi uma demora covarde por parte das autoridades. Um retrato brutal da negligência institucional que matou por omissão.

Turistas que testemunharam o acidente agiram mais rápido do que qualquer órgão oficial: registraram imagens, enviaram vídeos com localização exata, inclusive com uso de drone, e começaram uma mobilização pelas redes sociais. O mundo sabia onde Juliana estava. O mundo assistiu. E esperou. E ela morreu esperando.

Enquanto ela agonizava no abismo, o parque continuou funcionando normalmente. Visitantes entrando, saindo, sorrindo para selfies — enquanto uma brasileira travava uma luta silenciosa pela vida. Não houve interdição, não houve urgência. Houve atraso. Houve demora covarde.

As autoridades da Indonésia informaram que enviaram duas equipes ao local, mas obstáculos naturais, como saliências e neblina, dificultaram o trabalho. Interromperam a operação por “motivos de segurança”. Fizeram reunião. Emitiram notas. Pensaram, discutiram, avaliaram.

O nome disso, no Brasil, seria outro: omissão de socorro. Aqui, com todas as deficiências das forças de segurança, posso afirmar como escritora e membra das forças brasileiras: se fosse em solo nacional, haveria disputa entre socorristas para salvar uma vida. Teria bombeiro amarrado por corda improvisada, helicóptero da PM sobrevoando, drone da Defesa Civil em campo. Teria tentativa. Teria urgência. Teria humanidade.

O governador local chegou a citar o “tempo dourado” das 72 horas — a janela crítica para salvar vidas em desastres. Mas esse tempo dourado foi perdido entre burocracias, notas oficiais e o medo de arriscar.

Juliana sonhava alto, cruzava países com uma mochila nas costas e coragem no peito. Deixá-la morrer sozinha, numa cratera, foi mais que uma falha: foi um abandono. Um apagamento daquilo que ainda nos resta de civilização.

O corpo foi encontrado. A morte foi confirmada. E o silêncio agora é nosso. Um silêncio que precisa ecoar em denúncia, memória e cobrança internacional. Porque Juliana não caiu apenas num abismo de rochas — ela caiu no abismo da demora covarde, da inércia institucional, do despreparo logístico e da falta de compaixão.

Juliana merecia mais. Merecia tentar viver.