Convocar para ser silenciada: a nova cena da velha política em Itabuna

“Convocaram a secretária para prestar contas, mas calaram sua voz — em Itabuna, a arena política segue violenta com as mulheres e vazia de soluções.”

LISDEILI NOBRE

9/2/20252 min read

Secretaria convocada e interrompida: a velha arena do poder em Itabuna

Não é novidade. Vimos essa violência antes, quando Marina Silva foi convocada ao Congresso e sequer conseguiu falar diante de interrupções e desrespeito. A cena se repete, agora em escala municipal. Em Itabuna, o palco é sempre o mesmo: o povo na plateia, a Câmara no tablado e o Executivo tentando ajustar a iluminação. O espetáculo da vez foi a política habitacional — ou, para ser mais exata, o eterno “corredor do poder”, onde tudo se faz em nome do povo, mas quase nada é para ele.

Voltemos alguns dias. A prefeitura, pressionada pelo Ministério Público, resolveu cumprir a lei e derrubar as famosas “casinhas da Bananeira”, construídas irregularmente às margens do Rio Cachoeira. Um passo esperado, até louvável. Mas como em toda boa peça, eis que surge o ato seguinte: o vereador de oposição Danilo Freitas (UB) convoca a secretária de Infraestrutura, Sônia Fontes, para explicar a situação. Normal, não? Legislativo chamando Executivo para prestar contas — é assim que deveria funcionar.

Mas o inusitado não foi o convite. Foi quem assinou junto: vereadores da base governista. Para quem conhece a Câmara de Itabuna, isso é quase uma cena de ficção. E toda ficção, sabemos, antecipa realidades. O que se desenha? Um racha no casamento PSD–PT. O presidente da Câmara, Manoel Porfírio, já não esconde nos bastidores o desejo de vestir a faixa de prefeito.

E no centro do palco, a secretária convocada sequer teve voz. Sônia Fontes, mulher experiente, não foi sabatinada — foi interrompida. Ao invés de debate sobre habitação e sustentabilidade, recebeu dedo em riste, foi chamada de mentirosa e tratada como afronta. Um espetáculo de violência política de gênero transmitido ao vivo, sem ensaio e sem pudor. Afinal, quando o adversário é mulher e inteligente, a covardia se disfarça em oratória vazia.

O resultado? Nenhum avanço para as famílias que sonham com uma casa digna. Nenhum projeto discutido. Apenas mais um round da velha arena de poder, onde o povo vira figurante e a política se resume a retóricas de intimidação.

O corredor do poder segue cheio, mas não de soluções. Cheio de vaidades. Cheio de pré-campanha. Cheio da covardia de sempre.