Coluna de Opinião | OLHA ELAS – IN MEMORIAM
Três mulheres, uma ferida aberta: até quando a Bahia será perigosa para viver em corpo de mulher?
Lisdeili Nobre
8/18/20252 min read


O triplo homicídio que vitimou Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41 anos, sua filha Mariana Bastos da Silva, de 20, e a amiga Alexsandra Oliveira Suzart, de 45, escancara mais uma vez a vulnerabilidade de ser mulher na Bahia. Os corpos foram encontrados no sábado (16), em um matagal no bairro Jardim Atlântico, em Ilhéus, com ferimentos provocados por arma branca. Maria Helena e Alexsandra eram professoras da rede municipal, mulheres que dedicaram suas vidas à educação e tiveram suas histórias interrompidas de forma brutal.
Segundo a Polícia Civil da Bahia, as três haviam sido vistas pela última vez na sexta-feira (15), quando saíram para caminhar. O desaparecimento foi registrado ainda na noite do mesmo dia, o que deu início às buscas. Imagens de câmeras de segurança serão analisadas e perícias já foram determinadas pelo DPT.
Mas até quando vamos aprender, de fato, o que significa viver em um corpo de mulher? Até quando vamos consternar com as barbaridades que atravessam nossas vidas? Até quando nossas mortes serão respondidas apenas com notas de pesar ou repúdio?
Independentemente de qualquer motivação, as mortes inesperadas e violentas dessas três mulheres expõem uma ferida aberta na Bahia — um estado que coleciona alguns dos piores índices de violência do país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A cidade de Jequié, no sudoeste do estado, é hoje a segunda mais violenta do Brasil, atrás apenas de Maranguape, no Ceará. Feira de Santana, a segunda maior cidade baiana, também integra o ranking, acompanhada de Juazeiro, Simões Filho e Camaçari.
Essa conta não é apenas da segurança pública. É também da sociedade que se ilude com políticas de fachada: aquelas que cuidam da estética e do entretenimento, mas não cuidam do desenvolvimento humano que gera educação, saúde, emprego e dignidade. A violência é estrutural e se alimenta de descaso, de coronelismo e de misoginia.
Mulheres que ousam se manifestar são rechaçadas, intimidadas, ridicularizadas e têm suas rendas ameaçadas. Suas campanhas são sabotadas e seus espaços controlados para manter oligarquias masculinas no poder. O resultado? Ausência, ausência e ausência. Ausência de políticas públicas consistentes, ausência de proteção real, ausência de memória coletiva.
A Lei Maria da Penha e a legislação criminal são fundamentais, mas sozinhas não têm o condão de resolver a violência cotidiana que enfrentamos. É preciso consciência política. É preciso que mulheres votem em mulheres, e que homens, qualquer que seja sua posição, deixem de empurrar para a marginalidade a presença feminina nos espaços de decisão.
Nossos lutos precisam se transformar em memória e consciência coletiva, em instrumentos de justiça social para as mulheres. Caso contrário, continuaremos reproduzindo a hipocrisia de um país que chora suas mortas, mas não muda suas estruturas.
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