Cessar-fogo ou fôlego para os mercados? O anúncio de Trump e a dança geopolítica entre Israel, Irã e os investidores globais

"A 'trégua' anunciada por Trump ainda não saiu do campo das intenções — ou das jogadas ensaiadas. Para os mercados, serve como alívio pontual. Para o mundo, como lembrete de que paz não se declara em coletivas: ela se constrói."

Por Lisdeili Nobre 24 de junho de 2025

6/24/20252 min read

Donald Trump voltou a fazer barulho — desta vez, não com mísseis, mas com palavras.

Em uma declaração surpreendente nesta segunda-feira (23), o presidente dos Estados Unidos anunciou que Israel e Irã teriam chegado a um acordo de cessar-fogo no conflito em curso. A promessa? Paz a partir desta terça-feira. A realidade? Um silêncio ensurdecedor do lado xiita e nenhuma confirmação oficial por parte de Tel Aviv.

Enquanto o mundo aguardava sinais concretos de desmobilização, os mercados já haviam começado sua própria coreografia: bolsas em alta, dólar em queda e o petróleo prolongando sua trajetória descendente. Mas, como alertam analistas, o otimismo financeiro pode estar dançando ao som de uma música que ainda não começou de fato.

📉 Uma pausa nos conflitos ou um truque para os mercados?

O chanceler iraniano Abbas Araqchi foi categórico: "não há acordo de cessar-fogo". Israel, por sua vez, manteve o silêncio estratégico — o que, em termos diplomáticos, pode significar tudo ou nada. O anúncio, portanto, parece ter mais a ver com os humores de Wall Street do que com os corredores da ONU.

“Pode até haver um alívio momentâneo, mas a instabilidade geopolítica continua sendo um fator predominante. Estamos falando de um conflito em uma das regiões mais explosivas do planeta”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

⛽ O petróleo e o dólar: peças de um tabuleiro tático

Nas últimas semanas, o preço do barril de petróleo vinha recuando, reflexo de uma desaceleração da demanda global e de sinais de excesso de oferta. Um conflito duradouro entre Irã e Israel, dois atores estratégicos na produção e logística de petróleo, poderia reverter essa tendência. Mas a fala de Trump deu aos investidores um fio de esperança — ou de ilusão.

“O petróleo caiu, o dólar perdeu força e os mercados ensaiaram um rali. Mas tudo isso depende da materialização da trégua. Sem confirmação, o que temos é apenas especulação e, talvez, uma estratégia de contenção de danos", avalia André Galhardo, da consultoria Análise Econômica.

🇧🇷 E o Brasil nisso tudo?

Com uma taxa básica de juros ainda elevada, o Brasil pode acabar se tornando destino de capital especulativo — aquele dinheiro que circula onde os retornos são maiores e os riscos parecem controláveis. A valorização do real observada nos últimos dias já antecipa esse movimento.

“Mesmo com desafios nas contas públicas, o Brasil ainda é uma vitrine atrativa para quem busca multiplicar capital em tempos turbulentos”, reforça Galhardo.

Guerra real ou encenação política?

Na peça geopolítica encenada por Trump, o roteiro parece menos focado em soluções duradouras e mais em efeitos imediatos — seja para acalmar os mercados, seja para recuperar popularidade em um ano eleitoral. A diplomacia do Twitter dá lugar à diplomacia dos anúncios: rápidos, impactantes e, muitas vezes, não confirmados.

O fato é que cessar-fogo só se consolida com diálogo bilateral, mediação internacional e vontade política mútua. E nada disso, até agora, foi visto entre Irã e Israel.

📌 Conclusão

A "trégua" anunciada por Trump ainda não saiu do campo das intenções — ou das jogadas ensaiadas. Para os mercados, serve como alívio pontual. Para o mundo, como lembrete de que paz não se declara em coletivas: ela se constrói.

🔗 Acompanhe análises aprofundadas em: noticias.portalafirmativa.com