A Blindagem da Vergonha: a pior semana da Democracia

“Brasília conseguiu a façanha de ficar mais preocupada com processo penal do que com voto.”

Lisdeili Nobre

9/20/20252 min read

Foi a pior semana desde que inventaram a palavra democracia com letra maiúscula.
A Câmara, aquela casa que deveria ser do povo, resolveu pendurar um biombo de ferro na porta e dizer: aqui ninguém entra, aqui ninguém investiga.

Batizaram de PL da Blindagem.
Mas o povo, sempre criativo, já chamou de PEC da Impunidade, da Bandidagem, da Vergonha.
Afinal, como confiar em quem se protege mais da lei do que da perda de votos?

Imagino o patrão — o povo — contratando o funcionário — o deputado.
E o funcionário responde:
“Olha, meu expediente é segredo, não devo satisfação. Mas recebo seu salário, claro, em dia e com extras.”
Quem contrataria? Pois o Brasil contratou.

Lá em Brasília, o cenário parece uma comédia de circo decadente.
Palhaços sem riso, mágicos que fazem desaparecer dinheiro público, equilibristas tropeçando em suas próprias desculpas.
E no picadeiro, a plateia, nós, rindo para não chorar.

Dizem que foi aprovada com “urgência”.
Urgência de quê? Do pão? Do remédio? Do ônibus barato?
Não. Urgência de esconder processos.
Urgência de tapar buracos nos currículos criminais.
Urgência de apagar o incêndio que eles mesmos acenderam.

E o fogo ardeu tanto que alguns agora vendem desculpas como quem vende caldo de cana na feira: ralas, doces demais e cheias de bagaço.
O cinismo chegou a tal ponto que um deputado, eleito para defender a pátria, prefere pedir ao governo americano sanções contra o próprio país — em nome da devoção insana ao Pai.
O nome disso não é oposição. É traição.
Mas a Casa, generosa, chama de manobra regimental.

E Hugo, o presidente que “não importa”, deixa correr solto.
É o retrato: homens e mulheres eleitos para cuidar da pátria, mas cuidando apenas do espelho.
Enquanto isso, o corredor do dinheiro público segue escuro, turvo, cheirando a mofo.

E nós, do lado de fora, olhamos essa peça de teatro ruim, sem bilhete de saída.
Se Drummond estivesse aqui, talvez escrevesse:
“No meio do caminho tinha uma pedra, e no meio da pedra tinha um deputado.”