🌺 Preta Gil: amor, coragem e luta até o fim

Preta Gil foi símbolo de coragem e amor-próprio até o fim — enfrentou o câncer, a traição e o abandono com a força de quem nunca caminhou só.

Por Lisdeili Nobre

7/21/20253 min read

🌟 Trajetória artística e ativismo

Preta Maria Gadelha Gil Moreira, mais conhecida como Preta Gil, nasceu em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro. Filha do músico e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, cresceu rodeada por arte, política e música. Sua vida foi um manifesto: contra o preconceito, pela liberdade, pela diversidade. Preta foi cantora, atriz, apresentadora, empresária — mas, acima de tudo, uma mulher livre, intensa e combativa.

Sua estreia como cantora veio em 2003 com o disco Prêt-à-Porter, um trabalho que já demonstrava sua ousadia e autenticidade. Ao longo dos anos, construiu uma carreira marcada por letras de empoderamento feminino, corpo livre, sexualidade sem culpa e orgulho de suas raízes.

Preta era mais do que uma artista: foi ativista dedicada à luta contra o racismo, ao respeito às mulheres, à defesa da comunidade LGBTQIAPN+ e à promoção da aceitação do corpo fora dos padrões impostos. Falava sobre gordofobia com propriedade, enfrentava o machismo com coragem e transformava sua dor em voz coletiva.

💔 O câncer e o abandono do marido

Em janeiro de 2023, Preta Gil foi diagnosticada com adenocarcinoma no intestino, um tipo agressivo de câncer. Iniciou uma maratona de tratamentos — quimioterapia, radioterapia e uma cirurgia delicada. Enquanto enfrentava o desafio mais duro de sua vida, descobriu que também enfrentava outro inimigo: a traição do então marido, Rodrigo Godoy, que a abandonou durante o tratamento.

A revelação veio por meio de boatos e rumores nas redes sociais, mas logo foi confirmada pela própria Preta: ela estava sendo traída e emocionalmente negligenciada em plena UTI. Foi um baque nacional. Como se não bastasse a dor física, a luta pela vida, ela precisou encarar o luto de um casamento desfeito na hora em que mais precisava de cuidado.

Esse episódio abriu uma ferida coletiva — o abandono que tantas mulheres sofrem quando adoecem. Em silêncio, muitas enfrentam cânceres e cirurgias sozinhas, porque os homens que prometeram estar ali “na saúde e na doença” desaparecem diante da fragilidade.

🤝 Redes de apoio incondicional

Mas Preta não ficou só. Cercada de amigos leais, como Gominho, que pediu demissão para cuidar dela, e apoiada por sua família e por artistas como Ivete Sangalo, Carolina Dieckmann, Angélica, Luciano Huck, entre outros, ela seguiu com dignidade, amor e fé. O filho Francisco, sempre presente, também foi uma âncora nesse processo.

Preta dizia com convicção:
“O amor que recebi me curou tanto quanto os remédios.”

Ela transformou cada visita, cada gesto de cuidado, em força para seguir. Demonstrou que amizade verdadeira e laços familiares podem ser mais potentes do que alianças de casamento mal escolhidas.

Superação, legado e despedida

Em dezembro de 2023, Preta anunciou que estava curada do câncer. Voltou ao palco em 2024 com o “Bloco da Preta” e renovou seus compromissos com a arte e com a vida. Passou a usar sua história para inspirar outras mulheres: falava de amor-próprio como arma, de rompimento como libertação, de autocuidado como prioridade.

Mas, infelizmente, o câncer voltou de forma agressiva. Preta viajou para Nova York em busca de tratamento avançado. Faleceu em 20 de julho de 2025, aos 50 anos. Partiu em meio ao amor dos seus, deixando um legado artístico e humano inapagável.

🧠 Reflexão final: o machismo que adoece

A morte de Preta Gil escancara não apenas a injustiça de uma vida interrompida, mas também uma das grandes violências silenciosas que ainda assolam as mulheres: o abandono emocional e físico no momento da dor. A doença, que já fragiliza o corpo, muitas vezes revela o que os olhos demoraram a ver — relacionamentos frágeis, homens despreparados para amar com entrega, e mulheres que se veem obrigadas a serem fortes até no leito hospitalar.

Preta não se calou. Expôs a dor da traição e, com isso, deu voz a milhares que vivem realidades semelhantes. Fez da sua vida uma bandeira — de liberdade, de autenticidade e de resistência.

🌹 Preta vive. Na luta, na arte e no amor.