🎭 Festa é festa. Vaias são política.
O povo dança o forró, mas não dança mais conforme a música da política — sabe que festa é festa, e gestão é gestão.
Por Lisdeili Nobre
6/29/20252 min read


Os festejos juninos na Bahia ganharam dimensões monumentais. Estruturas de festival, artistas de renome nacional, camarotes disputados, publicidade intensa. Mas entre uma quadrilha estilizada e um refrão de sofrência, uma cena se repete com frequência desconcertante: vaias a autoridades políticas — e não apenas aos atrasos dos shows.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) que o diga. Após ser vaiado em pelo menos quatro cidades durante o São João e o São Pedro, precisou rever sua estratégia. Em Ipiaú, no último domingo (29), chegou até o camarote da prefeita Laryssa Dias (PP), mas foi aconselhado a não subir ao palco. O risco de nova vaia era alto demais. O governador preferiu o recuo — saiu da cidade incomodado e irritado com o clima político disfarçado de festa.
O episódio mais simbólico foi no Itapedro, em Itabuna, onde a vaia ecoou em coro, diante de um palco lotado e câmeras ligadas. O governo tentou abafar: disse que a vaia foi por causa do atraso de Henrique e Juliano. Mas quem assiste os vídeos percebe: o público distingue bem uma coisa da outra.
Porque, veja bem: o povo gosta de festa. Mas sabe separar. O eleitor pode dançar forró agarradinho e, no dia seguinte, cobrar o buraco na rua, a falta de médico no posto e o colégio sem ventilador. Pode tirar selfie com o gestor e, ao mesmo tempo, guardar a mágoa do abandono.
Essa consciência política, ainda que às vezes silenciosa, se manifesta com força onde menos se espera — em pleno arraiá. E não é novidade. Governos tentam há décadas transformar eventos populares em palcos eleitorais. Investem alto, acreditam que o carisma do artista respingará aprovação no gestor. Mas o povo não é mais plateia passiva.
Festa é festa. Política é política. E saúde, educação e segurança pública continuam sendo os verdadeiros palcos onde a popularidade se constrói — ou se destrói.
O que vimos neste São João foi um povo que dança, canta e celebra — mas também vaia. Um povo que começa a dizer, com cada vez mais clareza: eu gosto de São João, mas não aceito migalha disfarçada de presente. A festa passa, os problemas ficam.
E é aí que o forró vira freio.
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